Carlos, sem querer, ouviu os colegas de trabalho falando sobre ele.
— E então? Apagou os e-mails falsos que a gente criou?
— Sim, já deletei tudo. Não vai sobrar nenhum vestígio das mensagens “do presidente”. O Carlos não tem como provar nada.
— Ótimo! Ainda não acredito que ele caiu direitinho. Acreditar que o presidente mandou ele tomar o Feminilizante experimental e apresentar o relatório pro board hoje como mulher.
— Pois é. Ainda por cima pediu pra uma das secretárias ajudar com maquiagem e roupa. Tudo bem que ele sempre foi puxa-saco dos chefes e subiu rápido por causa disso, mas devia ter limite. Quem sabe agora aprende a lição.
— E o que acha que vai acontecer com ele?
— Assim que os sócios virem o que ele fez — usar ilegalmente um produto experimental da empresa —, vão demiti-lo na hora. Ou melhor, demiti-la. Aí eu assumo o lugar dele, e você vira meu braço direito.
Carlos se afastou em silêncio, o coração disparado. Assim que dobrou o corredor e se viu longe deles, começou a correr. O som dos saltos altos ecoava pelo chão de mármore, e ele sentia os seios fartos balançando desconfortavelmente, quase escapando do sutiã apertado.
Ele havia caído numa armadilha armada pelos rivais mais inescrupulosos da empresa. Agora precisava agir rápido: primeiro, sair dali antes que o plano deles se concretizasse por completo e ele fosse exposto na frente do board.
A segunda e mais urgente preocupação era: como conseguir outra dose do Feminilizante — a versão reversora — sem a autorização falsa que aqueles dois tinham fabricado? Sem isso, ele nunca mais voltaria a ser homem.