Osvaldo se olhou no espelho ao chegar em casa e odiou ainda mais o corpo em que estava agora. Ele, um homem de 65 anos, preso no corpo de uma prostituta de 29: seios gigantes, bunda avantajada e lábios com preenchimento exagerado.
Tudo começara quando fora atropelado por um ônibus ao atravessar a rua. O corpo original ficou inviável, e o seguro de vida lhe dava direito a um transplante corporal. Como não era o melhor plano, porém, ele teve de aceitar o que estivesse disponível no hospital — e o disponível era o daquela garota.
Logo de cara se sentiu humilhado ao sair em público. Chamava atenção de todos, especialmente dos homens. As costas doíam constantemente pelo peso que carregava no peito, e, para completar, os únicos sapatos que a garota possuía eram de salto alto, que machucavam seus pés delicados.
Dias depois, procurou um cirurgião plástico que poderia remover os implantes e reduzir os lábios. O preço, porém, era alto. Alto demais para quem vivia de uma aposentadoria modesta.
Osvaldo chegou então a uma conclusão inevitável: se quisesse se livrar daquela aparência de boneca inflável, teria primeiro de usar o próprio corpo para levantar dinheiro.
Não foi difícil arranjar emprego num clube de strip-tease. Lá, começou a ganhar um bom dinheiro.
O fato é que, enquanto juntava para as cirurgias, ele foi se acostumando com a aparência. E com as vantagens que uma mulher voluptuosa possuía.
Quando finalmente tinha a quantia necessária para as operações, decidiu que compraria um carro novo e... esperaria mais um pouco.
Na concessionária, enquanto o vendedor explicava os acessórios opcionais, chegou a vez dos airbags.
— E os airbags, senhorita deseja quantos?
Osvaldo olhou para baixo, para os seios enormes, fez uma careta engraçada e respondeu:
— Acho que já venho com dois bem grandes de fábrica.
Os dois caíram na gargalhada.
Antes de sair com o carro novo, o vendedor entregou um cartão.
— Aqui, moça. Se tiver qualquer problema, estes são os telefones de contato. No verso está o meu celular pessoal.
— O seu celular? Posso ligar direto se der algum defeito?
— Claro. Mas não precisa ser só por causa do carro. Se quiser jantar comigo qualquer dia, pode ligar também.
Osvaldo sorriu, guardou o cartão e agradeceu. Mais tarde, em casa, pensaria no convite... e ligaria para o rapaz. Os dois passariam a noite seguinte em um motel.
A partir daquele dia, passou realmente a gostar do novo corpo. E nunca mais tentou mudá-lo.
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