terça-feira, 25 de novembro de 2025


 — E então? — perguntou Luís. — Como estou?

— Nossa! — respondeu a esposa, admirada. — Você está uma mulher linda!

— Não é bem isso que eu queria ouvir no meu primeiro dia de volta ao escritório. Não seria melhor usar algo menos… feminino?

— Claro que não! Como a gente conversou, você não consegue mais se passar por homem. O melhor é assumir de vez o que você é agora: uma mulher. É daí que vai vir a sua força e o respeito dos outros.

Luís era o presidente de uma grande empresa, mas uma doença rara e agressiva estava destruindo sua capacidade de trabalho e, em breve, o levaria à morte. Com influência e muito dinheiro, ele conseguiu participar de um procedimento revolucionário: o transplante de cérebro.

Ele havia escolhido cuidadosamente o corpo de um homem jovem e saudável. Até o tamanho do futuro pênis tinha sido levado em conta na decisão.

Mas, quando o procedimento já estava em andamento, os médicos descobriram um tumor ao retirar o cérebro do doador. Restavam apenas algumas horas para encontrar outro corpo compatível; caso contrário, Luís morreria. Por um golpe de sorte (ou de azar), encontraram o corpo perfeito para o transplante. O único problema: era o corpo de uma mulher.

O prédio inteiro ouviu os gritos de uma garota quando Luís acordou, levou a mão entre as pernas e, em vez do membro masculino que esperava, encontrou uma vagina.

Levou meses de terapia e adaptação, mas finalmente chegara o dia de voltar ao trabalho. Com a ajuda da esposa, ele se preparou da melhor forma possível.

— Não esquece da postura, do jeito de caminhar e, principalmente, de se sentar como eu te ensinei — disse ela, ajustando o último detalhe no visual. — E fica de olho na maquiagem de tempos em tempos. Sua menstruação deve demorar alguns dias ainda, mas eu já coloquei absorventes e lenços umedecidos na bolsa. Boa sorte, meu amor!

Luís entrou no carro e, logo de cara, precisou avançar o banco: aquele corpo era bem menor que o antigo. Ao ajustar o retrovisor, ele se viu no espelho e murmurou, com a voz cristalina que ainda o assustava:

— Aquelas raposas velhas da diretoria nunca vão me levar a sério assim…

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