– Não... não... não podiam ter feito isso comigo!

– Mas, Roberto, o acidente foi feio. Você entrou com a sua moto debaixo de um caminhão, para desviar de um cachorro. O médico disse que não sobrou muito do seu corpo, e a sua única chance de sobreviver seria aprovar este experimento. E funcionou! Você está bem agora.
– Mas... estou no corpo de uma mulher!
– Uma adolescente, para ser mais exato. Esta garota havia completado quinze anos quando teve o aneurisma. Por isso era perfeita para o transplante. Estava com o corpo intacto e saudável.
– Deveriam ter me deixado morrer.
– Não diga bobagens. Olha só, o seu amigo Felipe está aqui.
– Roberto, é bom ver que você está... bem. Logo vai sair daqui e poderemos tomar uma cerveja... ou melhor, um milkshake.
– Por favor, saiam. Me deixem sozinho.
– Tá bem, querido. Mas só pra ir se acostumando: deve falar “sozinha” agora.

Seis meses depois.

— Estou pronta! — disse Roberto para a esposa.
— Nossa!
— O que foi? Tem alguma coisa errada?
— Não. Você está linda, Roberta!
— Obrigada. Eu tenho uma excelente professora.
— Confesso que, no começo, fiquei preocupada. Quando você não saía do quarto... Mas, aos poucos, foi mudando.
— Sim. Percebi que isso não foi um castigo, mas uma segunda chance. Eu seria muito ingrato se não aceitasse e não tentasse fazer o melhor.
— E está indo muito bem. Onde vai hoje?
— Bom... a filha do meu amigo Felipe é da minha idade. Vamos a uma festa juntas. Você viu a minha bolsa?
— Está aqui...

Roberto pegou a bolsa, olhou de forma desconfiada e a abriu. Lá dentro, além dos documentos, dinheiro e um perfume, havia também um absorvente e um pacote de preservativos, que a esposa havia colocado sorrateiramente.

— Só por precaução. Vai saber, né?

Roberto não reclamou. Ao invés disso, sorriu e fechou a bolsa. Os hormônios femininos naquele corpo já lhe causavam desejos estranhos e fortes, e a esposa, por ter passado por essa fase, sabia bem o que estava fazendo.

Ele então se despediu com um beijo no rosto da mulher e foi para a sua primeira festa como garota.