sábado, 21 de junho de 2025


— Alô?

— Olá, Lucas. Aposto que vai reconhecer esta voz... afinal, foi sua por trinta e sete anos.
— É a minha voz! Então é você?! A garota que fez isso? Que roubou o meu corpo?!
— Sim, eu mesma. Aposto que levou um susto daqueles ao acordar naquele motel e descobrir que agora joga no time das meninas, né? Sorte sua que eu paguei a conta antes de sair — ou teria que se virar com o dono do lugar.
— Por favor, desfaça isso. Devolva meu corpo!
— Vou devolver, sim. Mas não vai ser de graça.
— Então é isso... Chantagem.
— Claro que é. Poxa, estou como homem há só algumas horas e já estou começando a achar as mulheres burras! Hehe!
— Tá, eu pago. Quanto você quer?
— Um milhão. Em bitcoins. O endereço da carteira está NA SUA bolsa.
— Um milhão?! Eu não tenho isso!
— Ontem, quando tentou me seduzir, deu a entender que tinha bem mais que isso. Espero que não tenha mentido... ou então só vai ver seu corpo de homem em fotos.
— Não! Espere... Alô?! Alô?!


Um ano depois:

— Olá, Tatiana… ou melhor, Lucas!
— V-Você!!
— Sim. Quanto tempo, hein? Vejo que tem cuidado bem do meu corpo. Acho até que emagreceu, não foi?
— O que está fazendo aqui? Não se contentou em destruir a minha vida?
— Ora, eu não destruí a sua vida. Só a tornei mais... interessante. Tenho ficado de olho em você desde a nossa troca. Pelo que notei, se adaptou muito bem. Até arranjou um namorado.
— Eu... o Beto é só um amigo.
— Claro. Um amigo que passa praticamente o tempo todo com você. Que te faz gemer a noite inteira, a ponto de incomodar os vizinhos.
— Veio aqui pra me humilhar? É isso?
— Não. Na verdade, fiz aquilo com você porque estava desesperada. Mas... minha consciência tem pesado. Além disso, arranjei um bom emprego como homem, investi bem, e agora estou financeiramente estável.

— O que está querendo me dizer?
— Você quer destrocar? Quer seu corpo de volta?
— E-eu... não sei.
— Então não só se adaptou... como ama ser mulher, não é? Eu entendo. Ser mulher tem suas vantagens.
— ...

— Bom, acho melhor eu te deixar em paz. Não quero que o seu “amigo” pegue a gente aqui e fique com ciúmes. Um cara grande como ele deve bater forte, hehe. Adeus, Tatiana.
— Espere!
— O que foi?
— ...Obrigada.

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