quarta-feira, 4 de setembro de 2024


– Nossa, eu fico incrível com este vestido. Espere, Fábio, deixa eu tirar uma foto...


Karen me pediu para fazer uma pose com um dos seus vestidos favoritos. Ela estava lidando surpreendentemente bem com o que havia acontecido conosco — o fato de termos acordado, um dia, no corpo um do outro. Sua aceitação era tão tranquila que comecei a desconfiar que, de algum jeito, ela mesma tivesse causado isso.


– Fiz reserva naquele restaurante que a gente adora, então é melhor irmos logo – falei, tentando soar normal.


Quando estendi a mão para pegar as chaves do carro, ela foi mais rápida. Na garagem, abriu a porta do passageiro com um gesto firme, indicando que eu deveria entrar. Era tudo tão surreal. Eu apenas deixei que Karen assumisse o controle, que desempenhasse o papel de marido, enquanto eu, meio sem perceber, já começava a agir como a esposa.


Ao chegarmos ao restaurante, senti os olhares dos manobristas sobre o meu corpo. Principalmente no decote, onde os implantes que eu mesmo paguei para ela há um ano agora atraíam a atenção de todos os homens. Karen puxou a cadeira para que eu me sentasse, e, instintivamente, cruzei as pernas. Sem nada entre elas, o gesto parecia natural e confortável.


Quando o garçom se aproximou, por hábito, preparei-me para fazer o pedido, mas ela foi mais rápida. Pediu as bebidas e os pratos que havíamos escolhido, com uma confiança que sempre foi minha. Estranho, mas ao mesmo tempo, um alívio. Karen agia de maneira tão segura, e eu, naquele corpo pequeno, frágil e delicado, sentia uma insegurança nova.


– Sabe que isso nem é tão ruim? – disse Karen, com um sorriso. – Eu, no papel de marido, e você, a esposa. Acho que poderia me acostumar fácil. E você?


– Não sei, Karen... tudo isso é muito estranho pra mim.


Na verdade, eu não queria admitir, mas começava a gostar da situação. Sempre achei Karen uma das mulheres mais lindas que já vi, e agora, sentindo o mundo através do corpo dela, tudo parecia mais intenso, mais profundo. Eu sabia que, em algum momento, Karen iria querer me levar para a cama. E o que mais me assustava não era a ideia de me sentir humilhado, de odiar a mim mesmo ou a ela depois disso. O que me aterrorizava de verdade era a possibilidade de gostar. De desejar nunca mais voltar para o meu corpo.


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