Marcos perdeu o emprego. Para economizar com a empregada, ele e a esposa, Patrícia, combinaram que ele assumiria todas as tarefas domésticas enquanto ela trabalhava e sustentava a casa. Era para ser temporário, até ele se recolocar no mercado.
Mas o mercado estava em crise, e o emprego novo nunca aparecia. Patrícia, por outro lado, prosperava. Um dia, chegou com uma proposta inusitada: havia uma vaga de alto cargo, com salário muito maior… mas a empresa só a daria a um homem. A solução que encontraram foi radical: trocar de corpos numa clínica especializada. O procedimento era legal, registrado em cartório. Assim, “Marcos” (agora no corpo de Patrícia) seria promovido, e eles juntariam dinheiro rápido. Depois, quando a vida melhorasse, voltariam ao normal.
Dias depois da troca, Marcos — agora no corpo escultural e loiro da ex-mulher — descobriu que ser “a esposa” exigia muito mais do que limpar a casa. Era preciso cuidar dos longos cabelos louros, depilar-se inteira, aprender a se maquiar, escolher roupas que valorizassem as novas curvas. E, acima de tudo, manter o marido satisfeito.
No começo foi estranho. Carícias tímidas, toques hesitantes. Depois vieram as noites em que ele, ainda se acostumando aos seios sensíveis e ao calor diferente entre as pernas, se oferecia para aliviar o estresse de Patrícia com as mãos… e, mais tarde, com a boca. Ele descobriu que gostava da sensação de ser desejado, de ver o olhar de Patrícia escurecer quando ele aparecia de lingerie preta, joelhos no chão, sem precisar de nenhum pedido.
O sexo se tornou intenso, quase diário. Marcos — ou melhor, a nova “Patrícia” da casa — tomava a iniciativa com uma naturalidade que surpreendia até ele mesmo. Abria as pernas sem pudor, pedia mais forte, gemia alto quando era preenchido. O corpo respondia de formas que o antigo Marcos nunca imaginara.
Meses se passaram. Um dia, Patrícia chegou animada: uma nova diretora progressista assumira a área. Não haveria mais problema em ela voltar a ser mulher no trabalho. A troca podia ser revertida. Marcos poderia ser homem outra vez.
Ele a encarou por longos segundos, os lábios pintados de vermelho entreabertos, o robe de cetim escorregando de um ombro. Depois sorriu, lento.
— E por que eu ia querer isso? — perguntou, a voz suave e provocadora. — Eu estou feliz assim. A não ser que você queira o seu corpo de volta… aí a gente pode conversar.
Patrícia não deixou ele terminar. Avançou, tomou aquele rosto delicado entre as mãos e o beijou com fome. Naquela noite fizeram amor como se fosse a primeira vez — e também como se fosse a última antes de uma decisão definitiva.
Nunca mais falaram em destrocar.
No ano seguinte, a barriguinha já arredondada de Marcos (agora para todos os efeitos a esposa dedicada) era acariciada com reverência todas as noites pela mulher que ainda assinava como “Marcos” no trabalho. Eles estavam esperando o primeiro filho. E, pela primeira vez na vida, ambos se sentiam exatamente onde deveriam estar.
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