– Jorge, você vai sair mesmo assim? – perguntou Patrícia, erguendo uma sobrancelha.
– Claro, amor. Mercado, pão, leite, o de sempre. Precisa de algo?
– Não, mas… de onde veio esse short? Parece coisa de funkeira!
– Ah, a bunda cresceu de novo e nada mais cabia. Subi no sótão, achei umas caixas poeirentas. Roupas tão fofas que já joguei tudo no meu guarda-roupa. Este top também achei lá.
– Curto demais, Jorge. Tá mostrando até o que não devia.
Há algumas semanas, Jorge e Patrícia eram o casal padrão: ele, 1,85 m de puro maridão; ela, a rainha do planejamento doméstico. Aí veio a pechincha dos sonhos: casa grande, preço de banana, bairro silencioso.
Mas, após a mudança, Jorge começou a… encolher. Primeiro o peso: 92 kg → 68 kg em quinze dias. Depois, a altura: 1,85 m → 1,65 m. Exames médicos mostraram saúde perfeita – e nada podia ser feito.
Os traços masculinos diminuíam rápido. A barba sumiu junto com o pomo de Adão. A voz grossa afinou, ficando como a de uma menininha. Enquanto isso, ele migrou para o quartinho no fim do corredor – o antigo quarto da filha dos ex-donos, com paredes cor-de-rosa e decorado com pôsteres de garotos e bichinhos de pelúcia.
Seu cabelo cresceu vinte centímetros em um mês. No caminho para a barbearia de sempre, Jorge deu meia-volta, entrou num salão feminino e pediu:
– Hidratação profunda, corte em camadas, e quero bastante volume.
Patrícia tentava ajudar: comprava camisetas e calçados masculinos de acordo com o novo tamanho do marido, mas não adiantava. Jorge odiava e achava feio tudo o que não fosse jovem e feminino.
– Jorge, saindo assim, vai virar alvo dos machos na rua. É isso que quer?
Ele apenas deu um sorrisinho, ajeitou a franjinha e respondeu:
– Relaxa, Paty. Eu sei lidar com os homens. Até mais!
A porta bateu. Patrícia sabia que não havia mais volta. Jorge não era mais Jorge. Era Jaqueline – o nome que usou quando rapazes abordaram as duas na rua dias antes.
O marido se foi. Sobrou uma adolescente de cerca de dezesseis anos, no pico dos hormônios e desejos de mulher
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