Antes, quando meu nome era Marcos, todos que me viam sentiam duas coisas: atração ou inveja.
Eu era alto, forte, bonito e tinha um ótimo emprego em um banco. Além disso, estava noivo de uma modelo deslumbrante.
Mas aquele era apenas um personagem, não o meu verdadeiro eu. Viver assim era puro estresse, uma tentativa constante de satisfazer o que a sociedade e a família esperavam de mim.
Quando surgiram as clínicas de transplante de cérebros entre pessoas, decidi dar um basta naquela mentira. Não foi difícil encontrar alguém que quisesse ser eu. O mais demorado foi achar aquele que seria o meu corpo ideal.
Depois de desaparecer por algumas semanas, voltei já no corpo da Lívia. Minha família e meus amigos levaram um choque. Ninguém sabia do meu desejo, e para eles parecia pura loucura da minha parte. Mas estava feito.
Descobri então que a maioria não era tão mente aberta quanto eu pensava. Quase todos se afastaram. Também perdi meu emprego.
Fiquei triste por um tempo, mas logo percebi que nada disso importava. Aquela vida não me pertencia. Nunca havia sido realmente minha. Competir, ser um homem de sucesso, casar e ser pai de família… não era para mim.
Finalmente me sinto eu mesma. Agora sou uma garota jovem e bonita. Não preciso demonstrar ambição. Tudo o que meu chefe exige é que eu seja gentil com os clientes da lanchonete onde trabalho e os atenda bem.
Tenho uma vida simples, fiz novos amigos e, esta semana, terei o terceiro encontro com um rapaz que conheci na lanchonete.
Já demos alguns beijos, mas nada aconteceu além disso. Talvez, desta vez, eu deixe que ele avance um pouco mais… quem sabe até aceite irmos a um motel.
Para algumas pessoas, pode parecer que eu perdi muito. Mas, para mim, essa é exatamente a vida que eu sempre sonhei.
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