— Laura, precisamos conversar.
— O que foi, querido?
— No último mês, você ficou... diferente. Antes disso, vivia falando em divórcio, reclamava de tudo. E, de repente, mudou.
— As pessoas mudam.
— Sim, mas não tão radicalmente e tão rápido. Agora você faz tudo o que eu quero, sem questionar, e parece até gostar disso. Cozinha, limpa, lava, passa — como nunca antes. Até largou o emprego que tanto amava só pra cuidar da casa... e de mim.
— Acha ruim eu querer ser uma esposa melhor?
— Não, mas... Você vivia de moletom e roupas velhas em casa. Agora chego e você está sempre arrumada, muitas vezes só de lingerie, como agora. E, falando nisso, nunca pareceu gostar tanto de sexo. No último mês, você está... diferente. Quase uma ninfomaníaca. Nunca conheci uma mulher que gostasse tanto de transar.
— Ok, mas... pelo que está dizendo, não parece ter do que reclamar.
— O problema é que eu li sobre aquela clínica de troca de corpos que abriu na cidade. Coincidentemente, há cerca de um mês. Você não é a Laura, é?
— Bem... não. Eu não sou a Laura. Nós nos conhecemos, ela me contou das frustrações dela com o casamento. O que ela via como problema, eu enxergava como oportunidade. Então, tivemos a ideia de trocar de corpos... e de vidas.
— Eu sabia!
— Bom... vou pegar minhas coisas e sair desta casa.
— Por quê? Eu não te mandei embora.
— Não? Mas... olha, meu verdadeiro nome era...
— Pare! Não quero saber. Eu só queria a verdade. O que importa é que a pessoa aí dentro é a esposa perfeita. Eu seria louco de abrir mão disso.
— Ai, querido... snif! Eu te amo tanto!
— Que tal subirmos pro quarto e você me mostra o quanto?
— Claro! Vamos, meu amor!
O que o marido de Laura não sabia — pelo menos não no início — é que aquela pessoa era, na verdade, Rogério: um homem divorciado que sempre fantasiou ser uma mulher. Anos frustrado, viu naquela clínica a chance de viver sua verdade. Mais tarde, acabaria contando tudo ao marido de Laura, mas naquela altura... já não fazia diferença.
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