quarta-feira, 12 de novembro de 2025


O senhor Giovanni vai surtar quando me vir. Vai ser repulsivo, mas é o único caminho para conseguir o que eu quero.


Seis meses atrás, meu nome era Murilo. Eu era homem, grande e forte, o que me ajudou a subir rápido na organização criminosa. Comecei como cobrador de dívidas: bastava eu aparecer, e os devedores, apavorados com meu tamanho, pagavam na hora — e ainda agradeciam por eu não ter quebrado nada.


Tudo corria bem até eu me envolver com a namorada do chefe. Ele descobriu, mandou me matar. Antes, ordenou que cortassem meu pênis.

Eu jazia na rua, sangrando até a morte, quando uma velha cigana me encontrou. Ela me levou para casa, usou poções e feitiços para me salvar. Mas precisava de energia sexual para ancorar a magia. Sem o órgão masculino, ela ativou e expandiu minha polaridade feminina.

Funcionou. Sobrevivi. O preço: virei mulher. Completamente.

Agora quero vingança. Mas sou pequena, frágil. Qualquer capanga me derruba. Não há como enfrentar os seguranças de Giovanni cara a cara. Preciso me aproximar, pegá-lo sozinho, desprevenido. A única porta de entrada é a boate dele — como uma das garotas.

Com este corpo, vão me contratar na hora. Mas terei de dormir com os capangas, um por um, até chegar ao chefe. Vou odiar cada segundo. Ainda assim, farei. Por ele merecer.


Droga. Justo agora o Fernando me convidou para jantar. Meu vizinho. Ele não sabe de nada do meu passado. Desde a mudança, tem sido gentil, atencioso. Estou gostando dele. Acho o rapaz lindo. A cigana avisou: “Seu coração agora é de mulher.”

Tenho medo do que pode rolar entre nós. Mas, antes de mergulhar de volta naquele inferno, talvez eu mereça uma noite de paz.



Saí com o Fernando acreditando que seria a primeira e última vez. Acabou sendo o começo de tudo.

Foi como se os problemas desaparecessem. Pela primeira vez desde o pesadelo, eu respirava sem peso. A vingança, que antes era o meu foco, foi sendo posta de lado. Adiei um dia. Depois outro. Até que parei de contar.

A gente se apaixonou e hoje somos namorados. Ele cuida de mim e me trata como princesa fora da cama; dentro, me toma como se eu fosse uma puta. E eu amo. Não consigo nem imaginar outra pessoa me tocando. Pela primeira vez na vida, sei o que é estar apaixonado de verdade.

Um ano se passou. A ideia de voltar à boate e cortar a gargante do Giovanni, parece algo distante. De qualquer modo não importa mais: soube que ele foi morto. Traído pelos próprios capangas. A justiça foi feita.

Não precisei sujar as minhas mãos. Nem abrir mão da vida maravilhosa que tenho agora.

Às vezes, no silêncio depois do amor, Fernando me abraça e pergunta se estou bem. Eu sorrio. Estou mais do que bem.

Estou finalmente em casa.



 


2 comentários:

  1. As histórias estão legais, parabéns. Mas poste mais quadrinhos, amo as suas hqs rsrs

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  2. Obrigada! Um novo quadrinho está sendo produzido.

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