Marcelo conversava com uma garota que acabara de conhecer num bar. Algum tempo depois, quando já haviam falado o básico — gosto musical, o que faz nas horas vagas, etc. — o rapaz propôs uma brincadeira.
— Vamos jogar um jogo — disse Marcelo. — Eu te conto um segredo meu, e você me conta um seu.
— Tá bem, mas você começa.
— Bom… eu tenho medo de palhaços.
— Sério?
— Sim. Desde criança. Agora é a sua vez.
— Vai achar que sou louca, mas… eu consigo trocar de corpo.
— Tipo, você engorda e emagrece fácil ou algo assim?
— Não. Literalmente. Posso trocar de corpo com qualquer pessoa. Algumas pessoas na minha família nascem assim.
— Sei…
— Não acredita, né? Pois vamos apostar. Se eu trocar com você agora, ficaremos assim pelo resto do final de semana. Se eu não conseguir, eu pago a nossa conta. Combinado?
— Claro — respondeu Marcelo, achando que ela era mesmo doida.
Segundos depois Marcelo sentiu algo estranho, fechou os olhos e, ao abri-los, viu a si mesmo do outro lado da mesa.
Quando começou a perguntar o que estava acontecendo, a voz agora fina, a outra pessoa em seu corpo segurou sua mão e disse:
— Calma, Marcelo. Está tudo bem. Você está agora no meu corpo e eu no seu.
— Mas como?... Isso não é possível! Eu...
— É sim. Respira fundo e se controla. Posso destrocar a gente quando quiser, mas lembra da aposta? Vou fazer isso só no domingo à noite.
Marcelo respirou fundo algumas vezes e aos poucos foi se acalmando.
— E então? Como se sente sendo mulher?
— Bem… é bem esquisito. Sinto este corpo como meu, mas parece que está tudo fora do lugar.
— E para você está mesmo. Mas isso passa rápido. Logo vai parecer que este corpo sempre foi seu. No meu caso já não estranha — já fiz isso dezenas de vezes.
— E sempre dá certo na hora de voltar? É seguro?
— Totalmente. Mas tenho outro segredo.
— Mais um?!
— O corpo em que você está agora não é o mesmo em que eu nasci. Essa garota trocou comigo e quis ficar com o meu. Depois de experimentar ser ela, eu gostei e aceitei.
— Então era outra garota.
— Não. Assim como você, eu nasci homem.
— Puxa, que fantástico!
— Já que te contei isso, tenho outra proposta. Já faz cinco anos que estou com este corpo — acho que está na hora de mudar. Portanto, se até domingo à noite você decidir que quer ficar com ele, a gente não destroca mais e cada um segue sua nova vida. Que tal?
— Olha, acho interessante ficar assim por dois dias, mas garanto que não vou querer ficar. Eu gosto de ser homem.
— Vamos ver — disse a garota no seu corpo, com um sorriso no rosto.
Marcelo então precisou fazer xixi. Na porta do banheiro masculino, um rapaz riu e disse: “Acho que o seu é a outra porta.” Sem graça, ele foi ao banheiro das mulheres.
Foi estranho ter de se sentar, mas o alívio compensou a humilhação. Depois, ao lavar as mãos, olhou-se no espelho, tocou-se e fez caras e bocas. Não podia negar que estava gostando daquela nova aparência, e começou a imaginar se, quando o prazo acabasse, haveria alguma chance de decidir ficar daquele jeito para sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário