— Como se sente, Carlos?
— Fisicamente, me sinto bem, doutor. O problema é o restante.— O que quer dizer?
— Bem… neste corpo emprestado ninguém me leva a sério. Por mais que algumas pessoas saibam que aqui dentro eu sou um homem adulto, acabam me tratando como uma garotinha.
— Bom, acho que isso, de certa forma, é normal. As pessoas não conseguem evitar.
— Sim, mas até mesmo minha esposa passou a me tratar assim. Estou dormindo em outro quarto, ela escolhe as minhas roupas e fica me ensinando como me comportar… e eu acabo obedecendo. Nunca conseguimos ter filhos, e ela sempre sonhou em ter uma menina. Acho que está aproveitando minha situação para satisfazer esse desejo. Para piorar, a cada dia que passa eu me sinto mais como uma menina mesmo.
— Acho que ela só está tentando te ajudar a passar por isso.
— Eu sei, mas é muito estranho. Ainda bem que está quase acabando, que logo meu corpo estará recuperado do acidente e poderei voltar para ele… voltar a ser homem.
— Bem, além do exame, existe outro motivo para eu ter pedido que você viesse ao consultório.
— E qual é, doutor?
— O seu corpo estava quase recuperado, mas contraiu uma infecção. Não acredito que vá sobreviver.
— …Não pode ser!
— Sinto muito, Carlos, mas provavelmente terá de ficar definitivamente neste corpo.
— Mas eu não vou aceitar isso!
— Sua esposa já está sabendo. E como você agora é menor de idade, faremos a documentação e ela passará a ser sua tutora, até que atinja a maioridade.
— Quer dizer que agora ela…
— Sim, Carla. Agora sua esposa se tornou a sua mãe.
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