sábado, 3 de maio de 2025


— Rodolfo, o que está fazendo com o meu celular?
— Márcia, me explique estas mensagens com seu amigo Roberto. O que isso quer dizer?
— M-Mensagens?... É apenas uma brincadeira entre a gente.
— Brincadeira? Eu li desde quando você começou a falar sobre como estava cansada do casamento. Que não me aguentava mais por eu ser mandão, machista.
— É que eu estava enganada. Mudei de ideia.
— Mudou, sim. Há um mês você é praticamente outra pessoa, né?
— N-Não sei o que quer dizer.
— Não? Pois eu recuperei as mensagens em que seu amigo diz que gostaria de estar no seu lugar. De ser mulher. E também as de vocês falando sobre irem a uma das novas clínicas de troca de corpos.
— Era uma piada, querido.
— Mesmo? E por que, de repente, minha esposa mudou da água para o vinho? Antes evitava sexo, e agora parece uma ninfomaníaca. Faz coisas na cama que a mulher com quem me casei nunca faria — e ainda diz que adora.
— Eu... mudei.
— Mudeu tanto que agora entende coisas que antes ignorava completamente. Esquece de outras que fazia há anos. Você não é mais a Márcia, não é mesmo? Vocês foram para aquela clínica e trocaram de corpos sem ninguém saber. Você é o Roberto!


— Tá bem, Rodolfo. Você me pegou. Eu sou o Roberto. Na verdade, eu era.
— Como pôde fazer isso?
— A Márcia passou a se abrir comigo. Ela reclamava do casamento, de você. Tudo o que eu fazia era tentar convencê-la de que estava errada. Que você era um homem bom, que ela tinha sorte de ter você como marido. Mas ela não me ouvia.
— Sei. Aí você a convenceu a trocar de corpo.
— Não. Foi ela quem disse: “Já que gosta tanto do Rodolfo, por que não fica com ele? Quer trocar de lugar comigo?” Achei que era uma provocação, mas ela estava falando sério. Propôs que eu e ela trocássemos de lugar. Ela queria a liberdade e a independência de ser um homem.
— Mas e você? O que queria?
— Bem, de início eu não sabia. Fiquei confuso, não consegui dormir por várias noites pensando nisso. Até que acordei, numa manhã, e descobri: eu queria o que ela tinha. Queria ser mulher.
— Isso é doentio. Como teve coragem?
— Não sei. Foi tudo muito rápido. Assim que mandei a mensagem concordando, a Márcia marcou na clínica. Quando percebi, já estava saindo de lá no corpo dela. Indo pra casa. Para esta casa.
— E desde então fingiu ser ela. Por quanto tempo achou que iria me enganar?
— Juro pra você que eu não estava fingindo. Me senti sua esposa — e amei cada momento. Você é um homem maravilhoso. Mas agora... vou fazer uma mala e irei embora. Espero que um dia me perdoe. Que possamos, ao menos, ser amigos.


— Pera aí, Roberto!
— Por quê, Rodolfo?
— Não pedi pra você ir embora?
— Mas... agora que sabe que eu não sou a Márcia...
— Não gostei de ser enganado. Feito de bobo. Você deveria ter me contado.
— Sei... contar pra você, um cara todo machão? Sabia que nunca me aceitaria.
— Talvez. Mas agora é diferente.
— Diferente como?
— Bem, estamos juntos... e você tem sido minha esposa. Pelo que disse, parece que realmente gosta de mim.
— Claro! Adoro tudo em você. O jeito como me trata, como cuida de mim. Seu carinho...
— E quanto ao que a Márcia dizia, sobre eu ser machão?
— Olha, o que ela via como defeito, eu vejo como qualidade. Isso me faz sentir ainda mais mulher.
— Bom... se você ainda quiser ficar por aqui, e ser minha esposa... a gente pode tentar.
— Tá falando sério?
— Sim.
— Puxa! É tudo o que eu quero! Prometo ser a melhor mulher do mundo! Farei tudo o que você desejar!
— Então acho que podemos começar com...

Pouco depois:

— AAAH! Rodolfo! Isso é bom demais!
— MMM! Você é um tesão, “Márcia”!
— Eu te amo tanto! AAAH!


Nenhum comentário:

Postar um comentário